Uma carta escrita por detentos da Penitenciária Estadual de Cascavel (PETBC) e enviada à família de um apenado gerou grande repercussão neste domingo (19). No documento, membros da massa carcerária da unidade fazem um apelo urgente por ajuda, denunciando a precária situação de superlotação e alegando abusos cometidos por agentes penitenciários, em especial pelo chefe de segurança da penitenciária.
De acordo com a carta, as condições de superlotação na PETBC têm gerado um clima de tensão cada vez mais insustentável. Os apenados relatam uma constante opressão e humilhação, tanto para os detentos quanto para seus familiares. Entre as denúncias, estão relatos de coerção nas visitas, intimidação de parentes e até agressões físicas a presos algemados.
Apesar das tentativas de diálogo com as autoridades internas, a carta afirma que os apenados não receberam nenhuma resposta significativa, o que tem exacerbado o clima de revolta dentro da penitenciária. Além disso, a presença de três facções rivais na unidade, segundo os autores do documento, contribui para uma atmosfera de constante risco à integridade física dos internos.
O pedido de socorro contido na carta destaca um alerta alarmante: caso as condições não sejam modificadas, há o temor de uma nova rebelião, de grandes proporções, que poderia resultar em um banho de sangue histórico. Os detentos afirmam que, caso suas reivindicações não sejam atendidas, não hesitarão em tomar medidas extremas, inclusive fora da penitenciária.
A íntegra da carta
A carta é clara em seu apelo por dignidade e respeito aos direitos dos detentos. Assinada como “massa carcerária PETBC”, o documento denuncia abusos e descreve a situação como um “barril de pólvora prestes a explodir”. Os apenados afirmam que, se a situação não for resolvida, não terão escolha senão tomar ações radicais.
“Não queremos medir forças, mas o chefe de segurança está nos forçando a tomar uma atitude radical. Se for necessário, daremos nossas próprias vidas em prol de nossas famílias e para acabar com a opressão”, diz o trecho da carta.
O documento também denuncia a omissão dos responsáveis pela unidade quanto a mortes já ocorridas dentro da penitenciária, alegando que o chefe de segurança tem encoberto os fatos para as famílias dos envolvidos. O clima de revolta é ainda mais acentuado pela presença de facções criminosas dentro da unidade, o que aumenta o risco de confrontos violentos.
Investigação em andamento
A Polícia Penal do Paraná afirmou que investigará as alegações presentes na carta, que já foi amplamente divulgada nas redes sociais e nos meios de comunicação. As autoridades estaduais deverão apurar as denúncias de abusos e as condições de superlotação, além de averiguar a veracidade das ameaças de rebelião e as mortes mencionadas pelos detentos.
A situação na PETBC levanta questionamentos sobre a gestão das unidades prisionais no estado e a necessidade urgente de soluções para evitar uma tragédia iminente.
Confira a carta na íntegra:
Viemos através desta carta relatar e, ao mesmo tempo, pedir a atenção dos meios de telecomunicação em forma de um pedido de socorro. Não somos funcionários, mas sim a população carcerária da Penitenciária PETBC de Cascavel, onde não queremos regalias, apenas nossos direitos e a possibilidade de cumprir nossa pena de forma digna, pois estamos sendo humilhados. Não só nós, mas também nossos familiares, que estão sendo oprimidos e coagidos em nome do chefe de segurança. Tentamos dialogar com ele, mas não há diálogo, pois estão coagindo nossas visitas e até nossos filhos pequenos.
Não queremos medir forças, mas o chefe de segurança está nos forçando, como massa carcerária, a tomar uma atitude radical. Todos sabem que a unidade já teve duas rebeliões e nenhuma delas resultou em mudanças. Sempre a mesma opressão e desrespeito com nossos familiares. Jamais aceitaremos isso e não queremos chegar ao extremo, mas o chefe de segurança está nos obrigando a reagir. Se for necessário, daremos nossas próprias vidas em prol de nossas famílias e para acabar com a opressão, já que não há diálogo.
Estamos pedindo socorro, pois a unidade está em superlotação e é um barril de pólvora. A qualquer momento, pode explodir, e, infelizmente, será o maior banho de sangue da história desta penitenciária. Queremos que esta carta seja lida em canal aberto, pois estamos todos os dias assistindo à TV e pedimos ajuda de vocês, pois esta unidade se encontra com três facções rivais, e nós somos apenas a massa carcerária. Não queremos que chegue a tal ponto, mas se não nos derem atenção, nós, como criminosos, começaremos a agir aqui dentro e, lá fora, incendiando ônibus.
As mortes dentro da unidade já começaram, mas o chefe de segurança está omitindo e acobertando os fatos para as famílias dos envolvidos. Para a população de bem, estamos deixando claro nosso pedido de socorro e informamos que vamos reagir. E tudo isso será responsabilidade do chefe de segurança e dos demais envolvidos, que gostam de bater em presos algemados e humilhar a família.
Agradecemos a atenção e pedimos retorno dos órgãos públicos e da mídia, pois estamos assistindo à TV todos os dias.
Ass: Massa carcerária PETBC
CGN